A banda Chthonic já foi apresentada aqui no Blog e agora retorna com esta resenha do tão aguardado álbum "Takasago Army". Esta matéria também foi publicada no site Whiplash e concedida pelo próprio autor Felipe Hansëll.
Faixa 02: Aumente o som, pois "Legacy Of The Seediq" é um soco na boca do estômago. O clima é de guerra. Os riffs de guitarra de "Jesse Liu" e a bateria de "Dani Wang" te colocam m um canto e ficam batendo durante um bom tempo em seus ouvidos com pegadas ritmicas muito interessantes. O paradoxo gutural de "Freddy Lim" consegue ser bruto para todos os lados ao mesmo tempo que é melódico. Os instrumentos orientais de corda como o "Koto" aparecem com uma certa frequência sempre em um ponto estratégico e muito coeso. Há aqui uma boa sensação de que esse pode ser um grande álbum. Uma música de estrutura muito simples com um refrão complexo e quebrado. Com certeza vai funcionar muito bem ao vivo.
Faixa 03: Se a primeira faixa trazia um clima do oriente, a terceira faixa "Takao" é praticamente um hino taiwanês. Uma música muito diferente de tudo o que o Chthonic produziu durante toda a sua carreira e com um refrão em "chinês arcaico" muito simpático para você cantar com toda a sua família. Os instrumentos orientais continuam aparecendo e, dessa vez, temos a presença da marca registrada do vocalista que toca o violino de duas cordas (hena). Com certeza será a música mais famosa da banda nos próximos anos. Conceitualmente essa música representa a ida dos taiwaneses para lutar no exército japonês na segunda guerra mundial. O heroísmo e o patriotismo estão em alta nesta faixa.
Faixa 05: Apesar da flauta indígena no começo, "Southern Cross" se apresena como uma típica música de guitarrista. "Jesse Liu" assumiu o controle e fez "Dani Wang" correr bastante com a bateria para acompanhar o seu ritmo alucinante de cavalgadas. Se tem algo muito característico desse guitarrista é mudar constantemente os riffs e deixá-los complexos ao mesmo tempo que são rápidos. E como não poderia faltar, ao final da música temos um solo de guitarra magnífico. Um dos solos mais bonitos de "Jesse Liu" desde "Quasi Putrefaction" do antigo album "Chthonic - Seediq Bale". Nota dez para o bom gosto e feeling do guitarrista e para a banda como um todo.
Faixa 06: Sem perder o fôlego nem a força, o Chthonic avança para mais uma música bruta. Ouvir "Kaoru" é como participar de um tiroteio. É uma música muito tensa e há um sentimento de luta e derrota predominante na música inteira. Talvez uma das mais pesadas do grupo até hoje. A bateria de "Dani Wang", durante várias vezes no meio da música, passa a impressão de soar como uma arma, uma metralhadora dando tiros como se tudo na banda tivesse realmente aderido ao conceito da guerra. Além de um bom peso e poucas passagens melódicas, na reta final da música, um solo vocal aborígene capaz de levar muito marmanjo às lágrimas surge como se fosse poesia em meio a derrota. Você pode não fazer ideia do que a voz feminina diz, mas o significado de perda e melancolia é inevitável.
Faixa 07: Em "Broken Jade" até as guitarras choram. Depois de 5 faixas pesadas, o Chthonic ainda tem força sobrando para nos apresentar mais uma música incrível. Após ouvir "Kaoru" seus ouvidos clamam por "Broken Jade" que surge muito melódica no começo, mas logo você percebe que a guerra não acabou. É interessante notar que essa música tem um ritmo quebrado que passa de 4 por 4 para 6 por 8 dando uma dinâmica diferente sem soar muito progressivo. Em alguns momentos não parece metal extremo. Após um lindo solo de violino, a guitarra e a bateria comendo solta, eles nos presenteiam mais uma vez neste álbum de infindável surpresas: Ao final, enquanto Freddy grita no refrão: "Leve minha alma pelos ventos do Oceano, pois meu corpo eu deixo para a minha ilha mãe (Taiwan)", há uma voz de um locutor de rádio no fundo anunciando a derrota dos japoneses na segunda guerra mundial. O patriotismo assume proporções muito heróicas. Definitivamente um épico. A banda inteira continua impecável até a sétima música.
Faixa 08: Uma pessoa normal não aguentaria mais uma música de carga emocional tão forte. Depois de ouvir "Kaoru" e "Broken Jade" na sequência, nossos ouvidos precisam de uma folga. "Root Regeneration" é tudo o que precisamos. Uma música instrumental com barulhos de água, folhas, ar e todo um ambiente indígena ao meio da mata com uma flauta e uma reza aborígene. Essa música se apresenta como um descanso mental, uma meditação, algo da filosofia cultural dos nativos da ilha (Taiwan).
Faixa 09: Agora que você está regenerado, não vá pensar que a guerra acabou. Chthonic apresenta "Mahakala" como a nona faixa e te enche de porradas mais uma vez. A energia e a força deles nesse álbum parecem infindáveis. Depois de um grande conceito trabalhado nas 8 primeiras faixas, "Mahakala" teria tudo para ser uma música mais fraca, afinal é muito difícil manter um ritmo forte no álbum inteiro... Entretanto isso não aconteceu. Eles conseguiram apresentar mais uma música diferente, com outra estrutura, dessa vez com dois solos de guitarra com um deles, o mais melódico, fazendo dueto oitavado com o violino (hena). Depois de uma pancadaria sem tamanho, a música termina melancólica com o vocal de Freddy lamentando profundamente em seus guturais acompanhado do inseparável violino. Uma música que te prepara para a reta final.
O álbum além de dar uma lição de história, contanto fatos verídicos, dá uma lição de patriotismo e mostra que a independência no Taiwan não é um tratado ou simplesmente um feriado, é um conceito cultural de uma civilização que sempre lutou por isso e sofreu uma série de abusos.
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